"A maior fortuna de um homem é ser ele próprio o
originador da sua felicidade, quando ele se sente a desfrutar do que obteve
para si mesmo. Sem trabalho um homem nunca pode estar satisfeito. Quem desejar
sentar-se em paz e libertar-se de todo o trabalho não sente nem desfruta a vida
de modo algum; mas desde que seja activo ele sente que está vivo e apenas sendo
diligente pode ele sentir-se satisfeito. Um homem precisa de ser diligente, uma
mulher apenas necessita de ter uma ocupação. Ocupação sem um propósito é estar
ocupado em ser ocioso, onde nos ocupamos apenas por diversão. Ocupação com um
propósito em estar ocupado é negócio. Negócios sob dificuldades é trabalho. O
trabalho é negócio imposto em nós, onde nós obrigamo-nos ou somos obrigados por
outros. Nós obrigamo-nos se temos um fundamento motivante que supera todas as
dificuldades do trabalho. Por outro lado, muitas coisas obrigam-nos a
trabalhar, por exemplo o dever. Aquele que não é obrigado a seu trabalho por
nada mas pode trabalhar como quiser, não pode ocupar e preencher o seu tempo
com trabalho voluntário tão bem quanto se ele o tivesse de fazer por dever;
porque o pensamento que surge é: você não tem que fazê-lo, ninguém o obriga.
Por isso, é uma das nossas necessidades que devemos ter tarefas obrigatórias.
Quando o trabalho é executado há um sentimento de satisfação que ninguém sente
senão aquele que fez o trabalho. Existe igualmente mérito, aprovação e
auto-elogio a ser concedido a si mesmo se apesar de todas as dificuldades se foi
no entanto capaz de completar o trabalho. O homem deve disciplinar-se a si
mesmo, mas a maior disciplina é acostumar-se a trabalhar. Isto é um incentivo à
virtude. No trabalho não temos tempo para contemplar o vício, e ele traz
realmente os benefícios que um outro tem de pensar maliciosamente como obter
através do engano".
Kant, Immanuel. 1997 Lectures
on Ethic: Cambridge University Press, pp. 164-5