17 de março de 2011

“Ao trabalho, rapidamente e em força!”

"Eu sei muito bem que, de tempos a tempos, é preciso transformar 
mercados em campos de batalha, para que destes saiam de novo mercados" 
(Karl Kraus)

Que a guerra é a continuação da concorrência capitalista por outros meios já se sabia; mas há quem goste de mostrar como afinal é a concorrência capitalista que é a continuação da guerra. Mas será com os mesmos meios?

Para os que se entusiasmaram com o discurso de Cavaco fica aqui o que ele quis realmente dizer:


No lugar do “para Angola, rapidamente e em força!” de Salazar, vem o “Ao trabalho, rapidamente e em força!”

“A abnegação, não como bondade, mas como sensação de que a própria pessoa não tem importância, de que o próprio Eu pode, a qualquer momento, ser substituído por outro, tornou-se um abrangente fenómeno de massas, bem capaz de levar o indivíduo a arriscar a própria vida, mas que não tinha a mínima semelhança com o que costumamos entender por idealismo. Essa gente… já tinha perdido muito mais que a cadeia da miséria e da exploração quando o interesse por si própria lhe foi arrancado da mão… Perante esta negação do mundo, os monges cristãos eram apegados ao mundo, quase que transbordavam de interesse por assuntos terrenos. Desde o início do século XIX, muitos historiadores e homens de estado importantes vaticinaram a aproximação de uma época de massas… Todas essas profecias se realizaram agora de facto, mas, como costuma acontecer com as profecias na maior parte dos casos, de um modo que afinal não tinha sido previsto pelos profetas. O que eles não previram ou, mesmo prevendo, não avaliaram acertadamente no que diz respeito às suas consequências verdadeiras, foi este fenómeno de uma perda radical de si mesmo, essa indiferença cínica ou aborrecida com que as massas encararam a sua própria morte ou outras catástrofes pessoais, e a sua surpreendente predisposição para aderir às ideias mais abstractas, essa predilecção apaixonada por organizar a sua vida segundo conceitos destituídos de qualquer sentido, se tal lhes permitisse fugir ao quotidiano e ao bom senso, que desprezavam acima de tudo… A falta de uma verdadeira capacidade de discernimento anda aqui de mãos dadas com a estranha abnegação moderna, e ambas encontram uma correspondência por demais óbvia na atracção das massas por um mundo fictício…” (Hannah Arendt 1986/1951)

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