6 de abril de 2011

A sociedade da mercadoria e o jogo da paulada ao cântaro

Existe um jogo tradicional português, derivado da cabra-cega e com múltiplas variantes noutras culturas, chamado de “Paulada ao Cântaro”. Este jogo é jogado em série normalmente de 5 ou 6 participantes de cada vez, rapazes e raparigas, rodeados pelo público. Suspensos por uma corda, colocam-se três cântaros: um com um prémio (normalmente coelhos, galinhas, pombos, chouriços) e dois com enganos (água, farinha, terra, farelos). Cada participante tem os olhos vendados, sendo volteados cinco vezes por um elemento do júri, sendo largado depois, com um pau nas mãos, para tentar quebrar o cântaro. O pau para quebrar o cântaro é igual para todos os participantes. Os participantes jogam todos ao mesmo tempo e com os olhos vendados, dando assim, em muitas circunstâncias, pauladas uns nos outros. É declarado vencedor o que conseguir partir o cântaro com o prémio em primeiro lugar.

Imaginemos agora que não há público nem júri. Imaginemos também que não há prémio, mas só enganos. Quando acabarão as pauladas?

Dificilmente encontraremos um jogo que mimetize de forma tão perfeita a existência humana na sociedade fetichista da mercadoria. 

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