23 de maio de 2012

O trabalho abstracto como princípio masoquista masculino

"A maior fortuna de um homem é ser ele próprio o originador da sua felicidade, quando ele se sente a desfrutar do que obteve para si mesmo. Sem trabalho um homem nunca pode estar satisfeito. Quem desejar sentar-se em paz e libertar-se de todo o trabalho não sente nem desfruta a vida de modo algum; mas desde que seja activo ele sente que está vivo e apenas sendo diligente pode ele sentir-se satisfeito. Um homem precisa de ser diligente, uma mulher apenas necessita de ter uma ocupação. Ocupação sem um propósito é estar ocupado em ser ocioso, onde nos ocupamos apenas por diversão. Ocupação com um propósito em estar ocupado é negócio. Negócios sob dificuldades é trabalho. O trabalho é negócio imposto em nós, onde nós obrigamo-nos ou somos obrigados por outros. Nós obrigamo-nos se temos um fundamento motivante que supera todas as dificuldades do trabalho. Por outro lado, muitas coisas obrigam-nos a trabalhar, por exemplo o dever. Aquele que não é obrigado a seu trabalho por nada mas pode trabalhar como quiser, não pode ocupar e preencher o seu tempo com trabalho voluntário tão bem quanto se ele o tivesse de fazer por dever; porque o pensamento que surge é: você não tem que fazê-lo, ninguém o obriga. Por isso, é uma das nossas necessidades que devemos ter tarefas obrigatórias. Quando o trabalho é executado há um sentimento de satisfação que ninguém sente senão aquele que fez o trabalho. Existe igualmente mérito, aprovação e auto-elogio a ser concedido a si mesmo se apesar de todas as dificuldades se foi no entanto capaz de completar o trabalho. O homem deve disciplinar-se a si mesmo, mas a maior disciplina é acostumar-se a trabalhar. Isto é um incentivo à virtude. No trabalho não temos tempo para contemplar o vício, e ele traz realmente os benefícios que um outro tem de pensar maliciosamente como obter através do engano".


Kant, Immanuel. 1997 Lectures on Ethic: Cambridge University Press, pp. 164-5

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